segunda-feira, 29 de setembro de 2014

As personalidades diversas entre autor e personagens



   Quando eu falo por autores, por mais que eu queira generalizar, eu não posso. Posso falar apenas por mim mesma como escritora e supor que outros autores pensem ou ajam da mesma maneira.

   É importante notar que os personagens criados pelos escritores não são eles.

   São personagens criados.

  Podemos colocar algumas características nossas, muitos fazem isso incluindo eu. Adoro colocar opiniões, características e desejos meus em meus personagens. Cada um deles é um pedacinho do meu ser. Mas não todo ele.

   Eu, por exemplo, detestaria montar um personagem à minha imagem. Seria expor minha intimidade, desejos e sentimentos secretos. Prefiro distribuir meus defeitos, alegrias, humor e características em vários personagens.

   Então, nem adianta vir perguntar "Ah, mas quem é você na história?"

   Eu me lembro que essa pergunta era bastante frequente no meu grupo de amigas na escola, época em que eu costumava escrever em cadernos e deixar as pessoas acompanharem meus livros. Muita gente lia e muita gente me abordava com essa pergunta.

   No começo eu entrava na brincadeira e escolhia minha personagem favorita - que nem sempre era a principal. Mas depois de um tempo a gente começa a refletir e percebe que as pessoas levam muito a imagem da autora  para dentro da história, querendo decifrá-la e combiná-la com a personagem central. Isso é errado.

   Eu sou a que escreve. Sou aquela que cria os personagens, monta um cenário e desenvolve a história. Não participo dela. Ao menos não como as pessoas gostariam.

   Logo que terminei O Toque da Meia-Noite, alguns amigos meus disseram "Nossa! A Gwen é você escrita!". Demorei um pouco para entender que eles realmente acreditaram nisso. E estavam completamente errados. Minha personagem central tem muitas das minhas características, talvez mais que outros personagens. No entanto, não sou ela e tampouco ela sou eu.

   Gwen tem características - muitas delas irritantes - que não pertencem a mim. São características que implantei nela de propósito para o enredo da história.

   Já Erika, aquela personagem que diziam não ter absolutamente nada de mim por ser detestável... Ah, é aí que as pessoas se enganam. Erika tem muito de mim! E no segundo volume - onde ela começa a se destacar e tem um papel extremamente importante - é que ela começa a revelar as ideias revolucionárias que fazem parte de mim.

   Para quem acompanha A Garota Má, a Cherry também tem características minhas! Não eu não pertenço á máfia escandinava (risos). Mas tenho aquela chama poderosa de uma guerreira dentro de mim. Pode-se dizer que Cherry é o meu lado sombrio - assim como muitas personagens "não princesas" que eu crio. Faço sempre questão de fazer personagens assim, mulheres e homens com um lado sombrio ao qual não tentam esconder.

   Todos os personagens tem qualidades e defeitos. Todos os personagens tem uma ou duas características minhas. Mas eu não sou todos os personagens. E todos os personagens não são eu.

   Importante também ressaltar que nem tudo o que se passa no enredo da história aconteceu comigo.
As pessoas tem uma mania esquisita de achar que porque tal protagonista sofreu com tal coisa, a autora também. De fato, alguns autores colocam experiências vividas em seus livros, mas isso não é obrigatório.

   Lembre-se, a mente de um escritor é um mundo cheio de cores e cheio de fantasias. Ao escrever, a gente leva um um pouco dessa fantasia e imaginação para as páginas.

   E por último e não menos importante, aquele caso de colocar situações negativas nos livros. Como retratar o preconceito e o racismo, assim como diversos outros problemas que queremos combater no mundo. Isso é importante! Muito importante!

   Por quê? Porque o enredo da história precisa de momentos como esses. A partir do momento em que você retrata a homofobia/gordofobia/racismo/etc na sua história, mostrando como é e as consequências que esse tipo de preconceito traz, você o está combatendo em suas páginas!

   Eu mesma, faço questão de quebrar tabus nos meus livros. Detesto tabus! Acho que as pessoas deveriam se informar e começar a quebrá-los. Então, sempre coloco uma ou outra coisa que o pessoal categoriza como proibido, imoral, etc.

   Nesse segundo livro que está para sair vou abordar alguns dos tabus que mais incomodam e geram revolta. E pretendo quebrar todos eles mostrando como são desnecessários para as pessoas. E assim pretendo caminhar rumo a outros livros, sempre combatendo o preconceito e tentando fazer as pessoas entenderem que a frase "viva e deixe viver" é  fundamental para uma sociedade.

   Livros inspiram... Então por que não fazê-los inspirar-nos de forma positiva?

  Beijos mordidos da Meia-Noite!

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